
O médico reconhecido mundialmente como o ‘pai do ECMO’ faleceu no passado dia 20 de outubro, aos 86 anos.
Robert H. Bartlett nasceu onde passou grande parte da sua carreira, no Hospital Universitário de Ann Arbor (EUA). O mais velho de quatro filhos, a medicina estava-lhe no sangue: quando nasceu, o seu pai era interno de cirurgia na Universidade do Michigan, a mesma instituição onde mais tarde, em 1963, concluiu com distinção o curso de medicina. A sua formação pós-graduada em cirurgia geral e torácica teve lugar no Hospital Brigham and Women's, em Boston, onde teve também oportunidade de desenvolver atividade de investigação na Escola Médica de Harvard.
Em 1970 juntou-se ao corpo docente da Escola Médica de Irvine da Universidade da Califórnia, onde implementou a tecnologia de oxigenação por membrana extracorporal (ECMO) para o suporte cardiopulmonar prolongado no doente crítico. Inicialmente, o foco da utilização clínica do ECMO foi a falência cardíaca e/ou pulmonar refratária nos recém-nascidos. A sua Equipa foi responsável pela primeira utilização clínica com sucesso desta tecnologia, em 1975. Tratava-se de um recém-nascido, a Esperanza, com síndrome de aspiração meconial complicado de falência respiratória refratária, e que sobreviveu sem qualquer sequela após três dias de ECMO.
Em 1980, regressa para a sua alma mater, a Universidade de Michigan, onde consolida a sua carreira clínica e académica, nomeadamente através do aperfeiçoamento e da expansão da utilização do ECMO no adulto assim como no âmbito da transplantação. Neste contexto, obteve durante mais de 50 anos financiamento dos National Institutes of Health, com mais de 600 artigos científicos publicados e múltiplas patentes.
Robert H. Barlett foi também fundamental na criação e desenvolvimento da Extracorporeal Life Support Organization (ELSO), organização internacional de referência, sem fins lucrativos, dedicada ao ensino, investigação e divulgação científica do ECMO em todo o mundo, e que inclui o maior registo internacional que conta hoje com mais de 250.000 doentes. O seu percurso excepcional foi reconhecido através de múltiplos prémios e distinções, de que se destacam a eleição para a National Academy of Medicine e para o American College of Surgeons, assim como a nomeação como membro da National Academy of Inventors.
Para além da sua carreira profissional, nos seus ‘tempos livres’ era um fã incondicional de hóquei, foi autor de dois romances e um músico de longa data, tocando eufónio e contrabaixo. Partilhou toda a sua vida com Elizabeth Bartlett, com quem teve 3 filhos, Karl, Keith e Karen, que por sua vez ‘lhe deram’ 4 netos, Sam, Helen, Jason e Samantha. Viveu uma vida intensa, nunca tendo perdido a energia para uma boa discussão clínica e científica, que queria fossem acesas, mas com ‘fair-play’!
"Deixa-nos um legado de valor incalculável e o desafio de o continuar a defender e desenvolver".