A Medicina Intensiva atravessa um momento de crise e crescimento sem paralelo desde a sua criação, provocado pela pandemia de SARS-CoV-2 que continuamos a enfrentar. Este foi particularmente marcante em Portugal fruto do baixo número de camas com que iniciamos a luta contra a COVID-19. A resposta Nacional a esta ameaça foi exemplar, e a Medicina Intensiva pode orgulharse do papel que nela desempenhou.
No entanto há que reconhecer e enfrentar os desafios que se nos colocam nos próximos anos. Agora que está aberto um novo triénio da SPCI importa realçar alguns dos objectivos que nos propomos atingir com o apoio de todos.
A estreita colaboração entre os grupos profissionais que constituem a Medicina Intensiva é uma das suas características fundamentais e a organização da SPCI deve continuar a espelhar essa realidade. Pretendemos ter uma Sociedade aberta a todos os interessados e integradora de múltiplos saberes e competências.
A missão da SPCI mantém-se inalterada. O nosso objectivo fundamental é o de promover a excelência e melhoria contínua da prática da Medicina Intensiva em Portugal. Este assenta em dois eixos principais, nomeadamente a formação e a investigação. Outra área que importa reforçar é a da divulgação da realidade da Medicina Intensiva junto da Sociedade como forma de promover e proteger o seu desenvolvimento futuro.
É claro que a persecução destes objectivos depende da saúde orçamental da SPCI. Esta deverá assentar primariamente numa lógica de relacionamento transparente com os seus patrocinadores institucionais, identificando áreas de interesse mútuo e desenvolvendo projectos que permitam o encaixe financeiro necessário à actividade da Sociedade.
Mantemo-nos firmes no propósito de manter elevados níveis de qualidade, rigor e transparência em todas as actividades da SPCI.
A SPCI deve pugnar por ser reconhecida como um centro de formação e investigação na área da Medicina Intensiva.
O papel integrador da SPCI como ponto de charneira entre as diversas entidades e instituições que contribuem para a regulação da Medicina Intensiva deve continuar a ser fomentado. Este pode revelarse particularmente importante neste momento no qual é necessário criar as condições que permitam manter, de forma sustentável, o redimensionamento da Medicina Intensiva Nacional sem comprometer a qualidade assistencial de excelência que nos caracteriza.
É evidente que um dos principais desafios que se nos coloca é o da escassez de recursos humanos adequadamente treinados para a tarefa. Logo uma das principais metas para o próximo triénio será, necessariamente, o de criar condições para que os intensivistas em treino tenham acesso facilitado aos cursos e formações considerados necessários para a sua titulação. Aos enfermeiros intensivistas proporcionar-lhes acesso a formação que sirva de suporte à sua prática diária promovendo uma maior proximidade da SPCI com os SMIs. Pretende-se que este esforço, seja partilhado com as instituições Nacionais que têm, em paralelo com a SPCI, contribuído consistentemente para a formação na área da Medicina Intensiva.
Cumprido o objectivo de obter a acreditação da formação pela DGERT, o próximo passo será o de garantir a certificação pela UEMS garantindo a atribuição de créditos por formação contínua com qualidade reconhecida internacionalmente.
Com estes desenvolvimentos pretendemos ampliar a capacidade formativa da SPCI reforçando a nossa capacidade de fornecer treino adequado a todos os profissionais com interesse na matéria.
Os programas Europeus de intercâmbio com centros de referência serão gradualmente reactivados na medida em que a evolução da pandemia o permita.
Assim, a aposta na formação de qualidade, sediada na SPCI School, será um dos principais objectivos estratégicos para este triénio.
Reconhecendo que a formação resulta mais eficaz quando alicerçada em resultados e experiências locais, a segunda aposta estratégica é na investigação.
Os últimos anos têm revelado como o esforço colaborativo da Medicina Intensiva pode resultar na produção de investigação relevante para a prática clínica. A recente parceria estabelecida entre a anterior direcção e o Grupo de Infecção e Sepsis, da qual resultou a publicação das primeiras recomendações Nacionais para a abordagem do doente crítico com COVID-19 e a atribuição de uma menção honrosa do prémio Bial de Medicina Clínica é um bom exemplo.
O momento único que atravessamos oferece oportunidades de investigação e melhoria da nossa prática que temos obrigação de saber aproveitar.
Desta forma a nossa segunda aposta estratégica assenta no reforço da produção científica da Medicina Intensiva Nacional. Esta assentará na criação de novos grupos de trabalho (para os quais se encontram já abertas candidaturas) com regulamentação clara e financiamento anual definido em função dos objectivos definidos. Paralelamente tentaremos reforçar a ideia da rede de investigação Nacional em Medicina Intensiva através do desenho de estudo colaborativos pragmáticos, relevantes para a prática clínica e adequadamente financiados.
Por fim a aposta na divulgação pública da natureza e actividade da Medicina Intensiva como ferramenta para realçar a sua relevância social. Não há dúvida que a pandemia catapultou o tema da Medicina Intensiva para uma posição de enorme destaque junto da opinião pública e, mais uma vez, este momento tem de ser aproveitado para criar as condições necessárias ao seu desenvolvimento sustentado nos próximos anos.
O site da SPCI será instrumental nesta matéria e o seu desenvolvimento contínuo é para nós uma prioridade, nomeadamente com a criação de áreas específicas para o público em geral e melhoria do conteúdo disponível. O reforço da visibilidade da Medicina Intensiva deverá também passar pela presença em iniciativas de cariz social e que promovam a participação activa dos cidadãos nas decisões em matéria de saúde e em particular da Medicina Intensiva.
Os Congressos representam momentos de eleição para o encontro destas três linhas estratégicas. Nesta lógica tentaremos programar e divulgar o Congresso Nacional mais atempadamente de forma a maximizar a participação e o seu impacto. A clássica reunião monotemática será substituída pela reunião anual dos grupos de trabalho que será o fórum de revisão e programação da sua actividade.
Em nome da nova Direcção da SPCI, agradeço a confiança depositada neste projecto! Contamos com a vossa participação!